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    5.6.2012

    O Estado de S.Paulo

    Ex-embaixador vê com ceticismo reunião com Argentina
    GLAUBER GONÇALVES - Agencia Estado

    RIO - Ex-embaixador do Brasil na Argentina e vice-presidente emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Botafogo Gonçalves vê com ceticismo a possibilidade de o País conseguir resolver na reunião da quarta-feira, em Buenos Aires, os problemas que travam o comércio bilateral. "Acho pouco provável que numa reunião de um ou dois dias você consiga resolver esses problemas", disse na segunda-feira, durante o seminário Brasil-Argentina: A Construção de uma Estratégia Conjunta, no Rio de Janeiro.


    Ressaltando que não conhece detalhes da pauta do encontro, que deve contar com o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Alessandro Teixeira, à frente da delegação brasileira, Botafogo disse acreditar que uma solução só seria possível com uma mudança radical da política comercial argentina, porém declarou não ver espaço para que isso acontecer no momento atual, em que a economia do país vizinho passa por dificuldades "sérias". "A informação que temos é que o país está à beira de uma crise cambial seriíssima. Está faltando dólar."

    Embora avalie que o cenário na Argentina é negativo para os investidores brasileiros, Botafogo não acredita que as empresas deixem o país vizinho. "Devemos limitar um pouco a nossa preocupação porque uma empresa quebra e fecha, mas um país não quebra e fecha", declarou, ressaltando que a Argentina é um país com grande potencial para investimentos.

    Pessimista com a situação do parceiro comercial, Botafogo afirma que, para resolver seus problemas econômicos, a Argentina precisará realizar mudanças profundas em suas políticas, sugerindo até mesmo a mudança do ministro da Economia. "Cristina (Kirchner, presidente da Argentina) terá que mudar de enfoque na hora que acabar de dar errado, porque dar errado, vai", previu sobre os efeitos da atual política econômica da Argentina.

    O ex-embaixador, que assumiu o posto de Buenos Aires no auge da crise de 2001, quando o então presidente argentino Fernando de la Rúa deixou a Casa Rosada em um helicóptero, estima que, apesar do protecionismo argentino, a queda das exportações brasileiras para o país vizinho ao fim deste ano deve ficar em patamar semelhante ao registrado em abril, quando recuou 23%. "Não creio que haja mudanças muito bruscas. A pressão diplomática está crescendo e a Argentina tem consciência de que não pode ir muito mais além."

    Botafogo criticou ainda a centralização de decisões de Buenos Aires nas mãos do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, um dos maiores defensores do protecionismo dentro do governo de Cristina Kirchner. Para ele, a política do secretário argentino é "personalista" e "imprevisível". "A capacidade de fazer coisas erradas é absolutamente extraordinária."